sábado, 1 de setembro de 2007

DE PERTO NINGUÉM É NORMAL


O conceito de normal e patológico é muito relativo, depende de aspectos culturais, contextos históricos etc. O que parece absolutamente normal para uns numa determinada sociedade, para outras pode ser casos até de internação.Na verdade o poder atribuído à ciência e aos profissionais de denominar determinados comportamentos como sendo uma coisa ou outra é muito mais sério do que se possa supor, pois o profissional é um ser que foi construído a partir da educação recebida por seus pais, família... somado ao seu habitat natural, ou seja, o ambiente social em que viveu a maior parte da sua vida, daí não se pode desconsiderar o fato de ser um ser dotado de inúmeros “pré-conceitos”, que por mais que se tente não se desgarra de sua personalidade, por mais que os livros de Psicologia digam que não se deve dar um diagnóstico pautado nos seus valores morais, pois a realidade é mais forte que tudo isso.Imagine-se alguém formado em Psicologia, que foi educado numa família totalmente “vanguardista” em relação aos costumes da época, se ver diante de um paciente que está completamente assustado com algo que na família dele ocorre corriqueiramente?Ele irá diagnosticar o comportamento de seu paciente como normal ou patológico?Seus pensamentos e ações podem ser apenas características particulares de um ser “diferente”, com transgressões morais diversas dos que com ele convivem.


Existe um Movimento Antimanicomial acontecendo no país, mas toda transformação vem da educação, não adianta fazer campanhas para a Desospitalização dos doentes mentais, se a sociedade não aceita o doente como um ser humano. Desde o berço as famílias têm de ensinar a seus filhos - adultos em construção - a respeitar o diferente, que nem sempre aquilo que é diferente é necessariamente ruim, que aqueles que agem de forma diferenciada devem sim, ter algo a mais para lhes oferecer, algo que esteja no seu íntimo, que não possa ser visto a olhos nus, essa sensibilidade não pode ser ensinada de uma hora para outra, substituída por outros valores já enraizados pela vida, um adulto preconceituoso não deixará de sê-lo apenas vendo uma campanha na TV.Ajuda, mas não transforma.Claro, que esse tipo de campanha é bem vinda, como um grito de alerta paras os que estão sendo massacrados dentro daqueles lugares terríveis, seres humanos prisioneiros de si mesmos, acorrentados a seus mundos particulares.


Bem, se formos deixar de ser egoístas por alguns minutos e tentar nos colocar no olhar do outro, veremos que muitos comportamentos nossos são considerados “anormais”, quem nunca se viu diante de um espelho conversando consigo como se fosse outra pessoa?Até mesmo a pessoa que você gostaria de ser?Quem nunca se viu diante de uma situação boba para uns, como ser apresentado para a família do namorado e de repente gelar, tremer, por não ter a mínima segurança quanto a si mesmo (será que eles irão gostar de mim?).Hoje mesmo o meu tio que namora sério há 16 anos disse q não é casado, sendo que ele e a namorada estão 24h por dia juntos , fazem tudo juntos e ele ainda se considera solteiro, isso é normal?pra mim não, mas pra ele sim.


Ver atitudes nossas em outras pessoas faz com que repensemos muitas coisas que outrora julgaríamos como “doidice”. O comportamento no outro tem valor maior do que quando vem de nós. Julgamos-nos bonzinhos, normais, atribuímos à nós muitos adjetivos com eufemismos, mas quando é o contrário, as ações crescem, seus valores são multiplicados, pois o outro é muito mais “doido” do que nós.Pensamos que nossas ações são absolutamente normais, controláveis.Será que são mesmo?Quantas vezes passei horas do meu dia pensando nas bobagens que penso (pleonasmo), só faltava pirar o cabeção :P, mas hoje em dia tô um pouco mais light, tô me achando mais normal, ou será que minhas patologias estão se agravando tanto a ponto de me considerar louca como a maioria da população?Minha professora de Psicologia disse que não existe ninguém normal, então...


Caetano Veloso estava num momento “são” de sua vida ao exprimir uma frase que, no fundo, todos nós concordamos, todos nós queríamos tê-la dito: "de perto ninguém é normal".


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